quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sim, sim

Sim, sim!
Chama-lhe lembrança, que eu baptizo-o de pânico!
É tão óbvio que nem a vontade de desafio se aproxima.

E estou-me pouco lixando para o que soa esta raiva.
Cita quem quiseres, mente com todos os dentes que tens na boca e conta ainda com os que te caem no meio do chão.
Francamente, podes começar a cravar a cabeça na parede que, isso sim, deixará qualquer coisa em ti.

Sim, hei-de compôr-te uma música.
Com uma só nota para que te torture os ouvidos até ao fundo, que se transforme em zumbido e não durmas e não descanses e não te esqueças!

Já dá para ouvir!
Já me dá para rir.
(Não ouves?)


quinta-feira, 17 de março de 2011

Não quero que falem comigo

Não quero que falem comigo.
Não estou para vos ouvir.
Não me suporto a mim quanto mais a vocês...

Hoje tudo é maior que eu, tudo é melhor que eu.

Há mulheres mais bonitas, mais inteligentes do que eu.
Há mulheres melhores que eu.
E eu sinto-me mais uma, uma das piores. Hoje.

Há quem consiga tudo sem esforço, ou com pouco.
Há quem consiga sem perceber.
Eu simplesmente, hoje, não...

E nem ousem dizer frases de apoio ou menosprezo ao que afirmo e sinto.
Deixem-se ficar submersos pelos sucessos e vitórias e felicidades e todas essas coisas que vos aumentam o ego e vos faz ter essa lata de me dizerem o que quer que seja para me "animarem".

Hoje estou comigo e com a minha ignorância e pequenez.
Só hoje. Só agora.
Não tardará muito a mandá-las para onde me apetece mandar-vos a vocês.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sou eu o cadáver esquisito

O Cesaniry estava a pensar em mim e noutras pessoas como eu em dias como o de hoje.

Sou eu o cadáver esquisito porque:

. ainda respiro
. só reajo a 50% os impulsos
. não faço ideia que horas são porque não uso relógio e tenho as janelas fechadas. só sei que é noite
. estou deitada, sem me mexer, e essa é a melhor posição que encontro
. não sei mais nada além disto.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Daqui a uns anos, irei escrever este texto

Daqui a uns anos, irei escrever este texto:


Para o meu filho,

maquilhar-me é sujar os olhos;
fazer teatro é fingir coisas;
bebés são pessoas que não sabem o que são e por isso não podem crescer;
um pirata é um menino sem namorada;
cantar é dizer coisas bonitas como se fossemos anjos;
amar é dar bombons;
Natal é um dia em forma de estrela;
um filme é uma história secreta que agora já se sabe;
abraçar é deixar os corações tocarem-se com roupa no meio;
o pai é um menino com barba e força;
a mãe... é bonita.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ESTE MEU DESEJO DEVORA-ME (Desconstrução do poema "O Amor em Visita" de Herberto Helder)


Em cena um homem e uma mulher. O homem está no chão, com as mãos atadas. Junto a si, de pé, pisando-o com um dos pés, está a mulher. Homem na defensiva. Mulher violenta, com irónicas mudanças constantes de humor. Uma cadeira bem longe do Homem.

     
Ela: Olha bem para a minha face, aí de baixo.
Olha bem para mim, estás a ouvir, meu amor?

Vou-te cantar a música mais insuportável que fiz para ti.
     
(ajoelhando-se junto da cabeça dele, agarrando-lhe os cabelos) Sabes de que sou feita? De cabelos, de lábios, de ombros, de olhos penetrantes, de seios (ou mamas, como tu lhes chamas), de hálito com cheiro a terra!
Não sou feita de instinto maternal, de morte silenciosa, de pescoço de planta de tão frágil que possa ser.

(Ela dirigindo-se para a cadeira) Eu devo rasgar a minha face para que a tua viva?
Ou devo murmurar cada promessa tua, ó urna?


(Ela senta-se na cadeira) Eu sou aquilo que não se espera que seja.

Para ti já não se erguem mais os meus olhos!
Já não tenho o coração faminto que podia arder por ti…
Se gritei por ti, foi pura loucura…

Os meus pulsos vão-te fazer gritar!

Insistis-te numa violência profunda? Seu bárbaro…
E eu insisti em superstições, espantada com o teu fogo…

Fui mais que tua mãe!
Sabes o que és?
Um deus esmagado e acendido!
(E tão bom que é ver-te a arder…)

Ele: Ah, cabra!

Ela dá-lhe um estalo

Ela (murmurando): Shhhhh! Tu és o silêncio. Não podes gritar! (Ri-se)

Eu sei que és inocente. Eu sei que és cego, abstracto, pobre… eu sei! (Ri-se)

Desejo agarrar na tua cabeça áspera e dobrá-la para dentro do mar. Depois adivinho o teu rosto divino impresso no lodo… e então podes morrer…

(Ela dirigindo-se a ele com um lençol branco, tapando-o) Vais dormir num lençol mordido por bichos que se inclinam para dentro do teu sono…e não vais dormir! (ri-se, saindo de cena)


Texto desconstruído por  Ana Dionísio
Interpretado por Ana Dionísio e André Santos

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

As coisas que ainda não sabes.

Senta-te.
Vou-te ensinar umas coisas que ainda não sabes.

Um dia expliquei-te o conceito de amigo, na esperança de o assimilares de uma forma orgânica. E dei-te um exemplo, o nosso exemplo.
E tu compreendeste.

Um dia expliquei-te o conceito de "amor", na tentativa de me aproximar o mais possível do seu verdadeiro significado. E dei o mesmo exemplo.
E tu compreendeste.

Um dia expliquei-te o que era sonhar, sonhando contigo.
E tu compreendeste.

Um dia quiseste lutar. Eu expliquei-te que a luta era difícil para todos, sem excepção. E tu não compreendeste.

Então senta-te, vou-te ensinar umas coisas que ainda não sabes.

Esqueci-me de te dizer que a amizade, o amor  e o sonho são crianças esfomeadas, uma inocência em constante busca de alimento para seu benefício.

Esqueci-me de te dizer que na luta, o escudo é feito de amizades e amores que se preservam... e sonhos que nunca se deixam de sonhar.

Esqueci-me de te dizer que na luta podes perder um braço, mas nunca o coração.

Esqueci-me de te dizer que podes fazer tudo o que quiseres, com a força que desejares, mas que força a mais magoa.

Não,não te levantes já.
Ainda me falta ensinar-te umas coisas que ainda não sabes.
Não, não sabes.
E eu esqueci-me de te dizer que nem tu, nem eu, sabemos tudo. Estamos muito longe disso. Mas deveríamos saber muita coisa que por qualquer motivo, tu por uns, eu por outros, nos recusamos a saber.

Não sabes que a partida para uma luta tem, por trás de si, um passado que te levou a lutar.

Também não sabes que o teu passado vê muito bem o teu presente - tem vista priveligiada.

Nem sabes que o passado, apesar de passado, sente.

Eu venho do teu passado. Imponho-me no teu presente.
Mas se continuas a insistir que essa luta é assim como a pensas, eu não estarei no teu futuro.

E depois quero ver quem se sentará a explicar as coisas que ainda não sabes.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

e eu derreto-me...




- Porque é que não me ofereces flores?
- Porque elas morrem.
- Eu também morro.
- Não, tu és para sempre!


Saem-lhe estas palavras, e hoje não é dia dos namorados.