sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Atentado Explusivo-Impulsivo (sem correcções preponderadas) Aos Homens e Coisas Que Se Pareçam Com Tal

O que eu queria era ver-te sofrer da mesma maneira, exactamente da mesma maneira, que tu me fazes sofrer a mim.
E não me venhas com a merda do costume, do "foi sem intenção", porque aí duplico-te a dose de sofrimento e vais ver se não dás contigo com os pés no parapeito e a olhar lá para baixo.

Quero ver-te chegar aqui, encharcado,a implorares-me por um beijo - na cara que seja. E vais ver o que te cai na cara a seguir.
E isso não é pior que aquilo que tu e os outros como tu fazem.

E já te disse para não me vires com as tretas de sempre, porque essas já eu e as outras como eu as conhecemos a dormir e praticamente desde que nascemos.

Porque eu sinto as saudades e coisas como essas. E sinto-as a valer pelos dois.
Chamo por ti cinco vezes seguidas e tu? "Ups! Desculpa". Que belas palavras para enfiares no sítio que achas ser só para maricas!

Eu e as outras como eu, que somos todas um bando de burras, sensíveis até ao nome, só não respiramos por vocês porque não é possível. E tu? E vocês?

Estou farta de escrever para ti e para os outros como tu.

Vão-se foder.
Bom proveito.



Ana Dionísio

Dias Sem Data

MONÓLOGO A PARTIR DO HETERÓNIMO ÁLVARO DE CAMPOS

Hoje é uma data importante para quem faz anos, mas parece-me que ninguém faz anos hoje... isso deixou de importar.
Todas as manhãs em que acordava ao teu lado eram datas importantes. E aconteciam mais que uma vez por ano!
Hoje acordo sozinha...
E parece que para os outros também já não existem datas importantes. Também devem acordar sozinhos...
Decidi que os meus dias deixaram de ter data.
Agora têm duas horas em que estou na rua para parecer viva. E todos parecem mortos ao meu lado. O resto do tempo enterro-o à porta de casa quando regresso.
Ontem ouvi alguém rir e assustei-me. Pareceu-me que eras tu.
Devia estar louca...
Pensei em rir-me também mas não tive vontade.
Julgo-me sem vontade até de morrer e os mortos que por aí andam é que me dizem que tenho de ter esperança. (ri-se)
Voltasse eu ao dia em que te estendi a mão para a apertares. (estende a mão)
Voltasse eu ao dia em que me estendi no chão para me... (tapa a boca com a mão)
Prefiro-me sozinha. Prefiro o meu corpo sem temperatura deitado a meio metro do chão.
Prefiro tudo isso à vontade de voltar a ouvir-te mesmo não sendo tu, mesmo sendo um morto qualquer.
A esperança é a utopia do morto. A minha utopia é não ter esperança.

Ana Dionísio

Escrevi este texto inserido num exercício sobre o mundo de Fernando Pessoa, orientado por J'aime Morrison, professora de Projecto Teatral III.

Já nasceu

Acabou de nascer o lugar onde irei partilhar ficções e realidades.
Chamo-lhe "Antologia ou Falar demais", depois de uma lista de nomes bem piores.


Encontramo-nos em breve, com substância para partilhar.